Violência de Gênero e eleições 2022: A/o sua/seu candidata/o, tem propostas para enfrentar a violência política de gênero?

| by praktikum@kooperation-brasilien.org

Parlamentares trans desqualificadas por suas identidades de gênero; candidatas agredidas durante manifestações políticas no espaço público; quilombolas ameaçadas de morte em razão do compromisso com a preservação de suas comunidades; lideranças comunitárias tendo seus locais de atuação depredados; todas guardam um elemento em comum: são mulheres que foram vítimas de violência em decorrência de suas atuações políticas. Vítimas do que podemos nomear de violência política de gênero.

Violência política de gênero, porque além de estar associada diretamente à atuação política, é no “marcador gênero” que estão escorados os métodos de desqualificação e limitação que visam frear a atuação dessas mulheres. O marcador gênero, em intersecção com raça, classe social, sexualidade, território, e tantos outros, municia inúmeras práticas discriminatórias que objetivam cercear suas atuações políticas, e também desvelam a desvalorização da vida de mulheres negras, LBT’s, sejam parlamentares, ativistas, defensoras de direitos humanos. 

A violência política de gênero foi uma das formas de violência que ganhou destaque na pesquisa “Violência contra mulheres e letalidade feminina no Rio de Janeiro”, sobretudo a partir da interlocução com integrantes de organizações  da sociedade civil. Para além das violências perpetradas contra parlamentares em exercício, nossas entrevistadas enfatizaram as recorrentes práticas discriminatórias que buscam limitar a atuação de mulheres ativistas LBT’s, negras e/ou periféricas, que lideram iniciativas de defesa de direitos.

Quando falamos da atuação de mulheres negras e LBT’s que desenvolvem iniciativas de defesa de direito em favelas e periferias, entrevistadas na pesquisa chamam atenção para a intensificação de vulnerabilidades sociais e territoriais que ampliam a exposição dessas mulheres a violências. Alguns exemplos nesse sentido, são os casos de ativistas que lidam com a violência armada em seus territórios, com a insegurança alimentar e outros desafios materiais que impactam diretamente a manutenção de suas atuações.

Quando se trata de violência política de gênero no espaço da política institucional, sobretudo considerando a atuação de mulheres negras e LBT’s, destacam-se o baixo investimento em suas candidaturas, que muitas vezes impede que elas cheguem ao exercício de  mandatos; e as estratégias de enfraquecimento de seus mandatos, uma vez que elas são eleitas.  Quando no exercício de seus mandatos, muitas passam por variadas  formas de violência que visam minar suas atuações políticas, desde ameaças, xingamentos, desqualificações no ambiente virtual, chegando em alguns casos a agressões físicas.

Em um contexto marcado pela escalada da violência política de gênero, é mais que necessário afirmarmos pujantemente nosso compromisso com o fortalecimento da democracia, com a liberdade de associação, com o direito ao voto, e à vida.  E implicar nossos futuros representantes com a construção de políticas públicas que fortaleçam a participação de mulheres negras e LBT’s no poder, e em iniciativas de defesa de direitos em seus territórios de forma protegida.

Por isso, a pergunta que fazemos hoje é: a/o  sua/seu candidata/o, tem propostas que ampliem a participação segura de mulheres negras e LBT’s na política?

 

"Este artigo foi publicado originalmente no site do Observatório de Favelas com base na publicação "Violência contra mulheres e letalidade feminina no Rio de Janeiro" realizada pelas seguintes autoras: 

Raquel Willadino, Thais Gomes, Natalia Conceição Viana, Heloisa Melino, Isabele Sales dos Anjos, Aline Maia Nascimento