Marielle Franco – 5 anos ainda sem respostas
Por Aurea Thatyanne Ferreira*
Mulher, negra, bissexual, nascida e criada na Maré, a vereadora trabalhava em prol da população preta, pobre e favelada do Rio de Janeiro e foi assassinada a tiros na noite de 14 de março de 2018. O crime, que a transformou em mártir, escancarou o agravamento do contexto sócio-político brasileiro que estava só começando – em outubro daquele ano, Jair Bolsonaro foi eleito para a presidência.
O desenvolvimento das investigações ocorreu em paralelo à evolução do bolsonarismo no país, o que de maneiras ora diretas, ora indiretas, dificultou a resolução do crime. Na primeira fase, sob comando da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro, foram indiciados como executores do crime os dois ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, que seguem presos preventivamente; curiosamente, Lessa era vizinho de condomínio de Bolsonaro, o que levou que o slogan „Quem mandou matar Marielle?“ entoado nas ruas e na internet, fosse substituído por muitos por „Quem mandou o vizinho do presidente matar Marielle?“. Ambos aguardam julgamento enquanto se declaram inocentes, apesar das inúmeras provas, e os mandantes e as motivações seguem até hoje sem elucidação.
Em 2020 tentou-se federalizar as investigações e a família de Marielle se opôs, uma vez que havia o temor de que o governo Bolsonaro pudesse interferir de alguma forma. Suspeita-se que durante seu mandato as apurações tenham sido negligenciadas em diferentes momentos, de diferentes maneiras. O recém eleito governo Lula gera então um novo horizonte para a resolução do caso. O novo ministro da justiça Flavio Dino afirmou que elucidar o assassinato e trazer respostas para as perguntas que ainda persistem após 5 anos é para ele uma questão de honra. No último 22 de fevereiro, Dino determinou abertura de inquérito na Polícia Federal para investigar o crime, com apoio da família da vereadora.
O novo governo trouxe não apenas novas possibilidades para as investigações, mas também marcou o retorno do nome Franco para a política institucional brasileira. Anielle, irmã mais nova de Marielle, foi escolhida para assumir o Ministério da Igualdade Racial. A atual ministra, que até a morte da irmã não fazia parte do cenário político, fundou em 2018 o Instituto Marielle Franco, ONG voltada a produzir relatórios sobre racismo, sexismo e violência política sofrida por mulheres negras nestes espaços, além de chamar atenção internacional para o caso Marielle. O trabalho lidando com o legado da irmã e o novo cargo como ministra renderam a Anielle o reconhecimento como uma das mulheres do ano pela revista Time, sendo a primeira e única brasileira a compor a lista até então.
Assim como a trajetória política de Anielle, o mandato presidencial de Lula e a nova fase nas investigações estão todos apenas no início. Torcemos que possam se desenvolver e prosperar em segurança, para que no próximo 14/03 tenhamos respostas e que a justiça seja aplicada. Marielle presente, hoje e sempre!
#5AnosSemRespostas
#JustiçaPorMarielleEAnderson
*Aurea Thatyanne Ferreira é socióloga formada pela UFRJ e pela Uni Freiburg, com interesses em arte e cultura popular brasileira, globalização e dinâmicas geopolíticas de Norte e Sul global. Nascida e criada no Rio de Janeiro, mora atualmente na Alemanha e é colaboradora do KoBra.